domingo, janeiro 30

Inverno da Alma


Hoje, talvez por ser domingo, talvez porque o filme que vou comentar em seguida não seja essas coisas todas, talvez por postar tantos dias em seguida, estou meio preguiçoso para falar sobre essa produção. Inverno da Alma conta a história de uma dolescente de 17 anos, Ree (Jennifer Lawrence), que se vê forçada a cuidar de seus irmãos mais novos porque a mãe ficou maluca e o pai, que aparentemente não é flor que se cheire, sumiu.

Sus problemas só aumentam quand0 um policial aparece e diz que o pai, que se encontrava preso, deixou a casa onde moram como fiança. Ou seja, ou ele aparece em uma audiência marcada, ou a justiça vai tomar o imóvel deixando ela, mães, e irmão sem ter onde morar. A casa é localizada no campo e possui uma floresta em volta, onde ela caça esquilos para se alimentar. E talvez também vender peles de animais.

O pai tem algozes porque aparentemente ele falou demais à polícia. E a menina, após relutar, vai em busca de informação na propriedade de uma família, com quem o pai tem uma velha richa. Não é bem recebida, é ameaçada e prometida de violência, caso retorne. Ela começa a imaginar que o pior possa ter acontecido. Mas o pior é relativo, porque a fuga do pai pode ser grave do que a sua própria morte, sob a perspectiva de que a casa venha a ser tomada pela justiça, caso ele não apareça para a audiência.

A princípio, me pareceu estranho que uma casa, onde mora crianças e uma mulher enlouquecida possa ser posta sob fiança, a revelia dos outros proprietários. No Brasil, isso não seria permitido. O lar não é penhorável e considerada uma propriedade da família, e não de apenas uma só pessoa.

A busca pelo pai, ou do seu cadáver, é angustiante. De partir o coração assistir três crianças colocada em situação desesperadora. Os menores até que são protegidos pela irmã mais velha, mas esta atravessa agruras terríveis. O roteiro adota fórmula do sofrer, sofrer, sofrer até o desfecho, tão comum em filmes que procuram comover a plateia, mas mesmo assim tem lampejos de criatividade. Há a virutde de mostrar que o way of life americano não é só consumo e busca pelo paraíso na terra. É também formado por pessoas que precisam de muita força diante dos problemas, para não sucumbir às atrocidades que o mundo apresenta. Acho que dificilmente este filme, que é um dos dez que disputa o Oscar, poderá levar a estatueta. Não tem cacoete de filme vencedor. Mas de concurso que já foi vencido por Guerra ao Terror e Conduzindo Miss Dayse a gente pode aguardar surpresas. Inverno da Alma levou prêmios em Sundance e Berlim.

Winter's Bone
EUA , 2010 - 100 minutos

Direção:
Debra Granik

Roteiro:
Anne Rosellini, Debra Granik, Daniel Woodrell (romance)

Elenco:
Jennifer Lawrence, John Hawkes, Kevin Breznahan, Garret Dillahunt, Lauren Sweetser


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Enquanto escrevo aqui Murray e Djokovic estão disputando a final do Aberto da Australia. Já está 2x0 para o sérvio. Preferia que o escocês vencesse, porque acho o outro muito arrogante. Parece que não vou ser atendido em minhas preferências...

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Amanhã, se tudo correr bem, devo postar sobre o derradeiro filme que eu assisti que está na disputa do Oscar: O Vencedor. Não vou falar sobre Rede Social e a Origem. Ambos já tiveram muita repercussão de mídia e praticamente todo mundo que se interessa por cinema já assistiu. Mas quero dizer que A Origem, entre todos os dez, é o meu preferido. Foi realizado com traços de genialidade e tem o principal elemento propulsor no meu interesse, em profusão; é extremamente criativo, com uma trama envolvente e que nos obriga a pensar para ter uma compreensão próxima do que o autor nos propõe a passar. Mas talvez isso não conte muito na hora da escolha do vencedor. Contextos sociais sempre falam forte. E neste ítem, A Origem perde para outros favoritos, como Bravura Indômita e O Discurso do Rei. De toda forma, acredito que o vencedor sairá de uma desses três.

sábado, janeiro 29

Minhas mães e meu pai


Este filme, que também disputa o Oscar este ano, parece querer demonstrar que não existem diferenças entre casais homo e heterossexuais. Somos assim, escolhemos ser assim e podemos ser felizes assim. É mais ou menos, dependendo do ponto de vista, a ideia que a produção quer passar.

Nic (Annette Bening) e Jules (Julianne Moore) formam um par, mães de dois filhos gerados atraves de inseminação artificial: Laser (Josh Hutcherson), de 15 anos, parido por Jules e Joni (Mia Wasikowska) 18 anos, por Nic. Enquanto Nic parece assumir o papel de pai da família, por ser médica bem sucedida e provedora, Jules assume a fragilidade feminina, que deixou um curso de arquitetura para assumir a maternidade. O pai natural, Paul (Mark Ruffalo), é tratado como o doador do sêmem das duas concepções.

Tudo vem caminhando aparentemente dentro da normalidade. E normalidade, para qualquer casal com 20 anos de relacionamento significa também pequenas questões mal resolvidas ao longo do tempo. Há insatisfações de parte a parte, of course, my dear. O equilíbrio é desfeito quando Joni, a pedido de Laser, resolve querer conhecer aquele que seria o doador do esperma. Isso sem o consentimento ou conhecimento das duas mães. É necessário, nos Estados Unidos ter 18 anos para requerer o contato,que também precisa da aquiescência do doador.

O primeiro encontro é marcado por alguma tensão, mas Paul, um solteirão convicto se interessa por seus filhos. E a Joni, mais que o menino, consegue ter alguma afetividade. Um trocadilho nesse primeiro contato passará despercebido para que não conhece alguma coisa do inglês. O pai, tentando um certa intimidade, nomima o filho de Lazzie, no que é prontamente corrigido por ele "Laser". Lazzy em inglês é preguiçoso, e o garoto tem dificuldades na escola, enquanto Joni é a bem sucedida nos estudos, a ponto de ser selecionada por todas as universidades em que se inscreveu.

A coisa mela de vez que Paul conhece toda a família, e resolve contratar Jules para fazer a jardinagem de sua casa. Ela está iniciando um trabalho nessa área, a contragosto do seu "marido", tentando resgatar o tempo profissional perdido cuidando de crianças do par. Nic, em todos os momentos, abomina a aproximação com Paul, enquanto Jules vê como uma coisa normal e aceitável. Acontece que durante o trabalho, Jules se envolve afetivamente com Paul. Quem paga o pato é o ajudante de jardinagem mexicano que é demitido por ter aparentemente suspeitado da situação.

Paul, de solteirão convicto passsa a apaixonado por Jules. Tudo até que vai bem, quando Nic descobre todo o caso e vê todas as suas suspeitas se concretizarem. Os filhos também passam a hostilizar tanto a mãe infiel quanto o pai que estavam descobrindo aos poucos.

A história é interessante, mas ao mesmo tempo não consegue fugir do conservadorismo em se tratando de relações afetivas. Algumas questões são discutidas até com alguma propriedade, porém avança pouco no que se poderia entender como uma família moderna. O tema é polêmico e o filme vale ser assistido. Mesmo se você for preconceituoso nesta área.

The Kids are All Right

EUA , 2010 - 104 minutos
Comédia / Drama

Direção:
Lisa Cholodenko

Roteiro:
Lisa Cholodenko

Elenco:
Julianne Moore, Annette Bening, Josh Hutcherson, Mia Wasikowska, Mark Ruffalo, Yaya DaCosta, Kunal Sharma, Eddie Hassell, Rebecca Lawrence, Joaquín Garrido

PS. Recentemente Moore, em solo italiano criticou uma declaração deBerlusconi, afirmando que é melhor gostar de mulher do que ser homossexual.

PS 2. O mais preconceituoso que vi neste filme foi Jules dizer que queria que o filho fosse gay para ser mais sensível, como se queimar a ruela fosse fator de sensibilização.

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Não Natan, se eu fosse mais novo não iria ter opinião diferente sobre selvagerias infanto juvenis nominadas de trotes ns universidades. Não sei se você sabe, mas esta é a minha terceira aprovação em uma instituição pública, a primeira foi com 18 anos, e sempre pensei da mesma forma. Felizmente, há pessoas que evoluem e saem desse círculo vicioso, que nada mais é do que uma vingança em terceiros (já que não podem barbarizar os seus antigos algozes), da humilhação que sofreram em tempos idos. Infelizmente muitos não conseguem, ou não querem, dominar o zoológico que habita dentro de si.



sexta-feira, janeiro 28

Antes que o Mundo Acabe


Não costumo postar duas vezes no mesmo dia, mas, como o cinema de arte do multiplex do Iguatemi vai exibir "Antes que o Mundo Acabe" este final de semana, senti vontade de falar alguma coisa. É um filme gaúcho que marca a estréia de Ana Luiza Azevedo na direção. Conta a história de adolescentes que começam a enfrentar os primeiros problemas da vida adulta.

Daniel, 15 anos, de classe média é filho de um fotógrafo, que tem o seu mesmo nome, que está na Tailândia, participando de um projeto fotográfico que dá o título do filme. Ele não conhece o pai. Nunca viu, e trata como pai o atual marido de sua mãe. Tem uma irmã, Maria Clara, que é mais ou menos o alterego infantil da história.

A trama é bem costurada. A namorada de Daniel, Jasmim, resolve dar um tempo e fica com o amigo de ambos, Lucas. Um menino pobre, mas considerado exemplo na escola Dom Bosco, onde estuda com uma bolsa. O rompimento de Jasmim mexe com o ego de Daniel, que passa a receber cartas de seu pai, que se encontra enfermo na Tailândia. A princípio ele reluta em abri-las mas a curiosidade o compele a conhecer o conteúdo das correspondências.

Daniel passa então a ter o primeiro contato com o pai, a partir do que vem nas cartas, fotos e textos escritas a máquina de datilografar, dessas bem antigas, passa a conhecê-lo melhor, e a suas motivações.

Ao mesmo tempo que o roteiro se enfronha nessa relação incomum entre pai e filho, vai nos desvendando os valores e princípios dos jovens envolvidos na trama. Daniel conhece depcepção amorosa, toma o seu primeiro porre e também chega a furtar três bombons em uma viagem a Porto Alegre, acompanhado de seus amigos Lucas e Jasmim.

Todas as questões são abordadas com leveza, que acredito ter a ver com a mão feminina que conduz a direção. Não faz juizo de valores e mostra como as falhas humanas podem ser absorvidas sem que haja bons ou maus, fortes ou fracos. Tudo faz parte de nossa natureza. Antes que o Mundo Acabe vale a pena ser visto, independente da idade que você possa ter. Muito belo o tratamento dado a uma cidade do interior gaúcho, onde o principal meio de transporte é a bicicleta. Este filme ganhou alguns prêmios na Alemanha, no Uruguai e em são Paulo. Recomendo.

Direção: Ana Luiza Azevedo
Roteiro: Paulo Halm,Ana Luiza Azevedo
Elenco: Janaina Kremer (Elaine), Eduardo da Luz Moreira, Pedro Tergolina

127 horas


Este filme é mais um que disputa o prêmio principal do Oscar. A meu ver, vai só cumprir tabela, sem nenhuma chance de sair da festa com a estatueta. A história, verídica por sinal, é daquelas que escolhe a platéia para judiar. 127 horas é o exato período em que o protagonista, um alpinista (portanto idiota por definição. Cá pra nós, existe coisa mais idiota do que passar dias e dias em escaladas árduas para desfrutar alguns minutos no topo de uma montanha?) que fica enganchado por uma rocha que rola sobre o seu braço.

O compartilhamento desse sofrimento é o fio condutor da trama. O cara, Aron Alston, lá preso, fazendo as suas despedidas para a sua câmera digital, dando toda a pala de que vai morrer, de que não tem saída, e o público sofrendo junto. Como é baseado em fatos reais, o fim da história já é conhecido. O alpinista livra-se da armadilha auto-imposta decepando parte do braço, e em seguida consegue um resgate.

Mas o personagem real é tão idiota que mesmo sem o membro ainda volta para as escaladas. Com uma diferença, agora ele avisa aonde vai, como se o único problema fosse a localização. Para quem não sabe, no alpinismo muitas vezes se conhecer aonde estar o cadáver vivo é o que menos conta. Vide os dois brasileiros que recentemente faleceram na prática desse esporte (?) imbecil. Todos sabem exatamente aonde estão os corpos e não se dão nem ao trabalho de resgatá-los.

Bem, acho que vocês perceberam que não gostei da história. O filme até que começa bem, tem um bom diapasão, mas fica nisso, até os créditos finais. Talvez os admiradores do alpinismo consigam ver alguma graça nessa produção. Eu não. Por isso não terei o trabalho de colar aqui a ficha técnicas dessa produção

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Aproveitando os dias de folga que me foram presenteados, ontem, também assisti ao filme O Turista. com Johnny Depp e Angeline Jolie. Acho que esses dois não estão mais sabendo escolher os roteiros na hora de pegar os trabalhos. Vide os também fracos Alice no País das Maravilhas do Tim Burton (Depp) e Salt (Jolie).

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Fazia tempo que não via tanta selvageria infanto juvenil como ontem na UFC. Como é que alguém acorda cedo e perde um dia de sol na praia, ou fazendo qualquer coisa interessante para ficar aplicando trotes cretinos em seus futuros colegas? Como diria um antigo professor meu, idiota a gente não precisa procurar, eles sempre dão um jeito de aparecer.

quinta-feira, janeiro 27

O Discurso do Rei


Minhas opiniões quase nunca coincidem com a dos caras do Oscar. Eu sequer colocaria o ganhador da estatueta de melhor do ano passado, Guerra ao Terror, entre os 10 pré-selecionados. Mas é impossível deixar de prestar a atenção na festa dos escolhidos e procurar assistir os indicados. Os caras do Oscar realmente fazem o serviço bem feito e conseguem gerar no público do mundo todo, mesmo nos menos ligados em produções cinematográficas, uma expectativa, um desejo, mínimo que seja, de assistir aos laureados.

Esse preâmbulo foi para dizer que sou igual a todo mundo, nesse aspecto. Por isso, me detive para apreciar O Discurso do Rei,que recebeu o maior número de indicações para a festa do dia 27 de fevereiro. O filme conta a história da relação do príncipe George, que é gago e tem enorme dificuldades com discursos, óbvio, e o seu adestrador de linguagem australiano, que nem formação técnica sobre o assunto tem. Albert, por renúncia de seu irmão Edward, que trocou o trono por um casamento com uma americana já com dois divórcios, é entronado rei da Grã Betanha. Aí, mais do que nunca, será forçado a proferir discursos eloquentes, ainda mais com uma Guerra contra o Eixo sendo declarada.

Pois é. O tema central do filme não provoca curiosidade. Mas 12 indicações para o Oscar não é coisa que se consegue todo dia. A trama gira em torno de uma amizade que ao pouco se constrói entre um integrante da realeza, e um plebeu de poucas posses, mas com grandes possibilidades de auxiliar sua majestade em seus objetivos. O plebeu impõe como condição para a terapia uma relação de igualdade. E a contra gosto do futuro Rei, passa a chamá-lo Bertie, tratamento que só é usado por seus parentes próximos na intimidade do lar.

O filme faz um esforço para tornar a realeza mais humana, mais próxima do cidadão comum. E isso, penso eu, os americanos devem gostar. Vai caminhando nessa direção, mostrando alguns avanços que Albert tem em sua fala, até o apoteótico discurso do Rei, que dá nome ao título da produção. Tudo bem que a ambientação de época está muito bem apresentada, o figurino, os atores também dão conta do recado (avaliação de interpretações não é o meu forte, confesso), mas a trama em si não traz surpresas do ponto de vista estético, e o roteiro também não mostra nada além dos padrões de normalidade do cinemão. Também é complicado para a produção britânica oferecer muito, haja vista que está totalmente baseada em fatos reais. A realidade tende a atrapalhar o criador da obra, creio eu.

Mas o filme não é ruim, e consegue tocar a emoção. A trilha sonora, carregada de violinos, contribui sobremaneira para esse resultado. Se não tivesse recebido tantas indicações ao Oscar, certamente não receberia tanto destaque da mídia e talvez nem tivesse despertado o meu interesse. Sinceramente, há produções melhores que foram preferidas pelo tio Oscar. Interessante ver a atual rainha Elizabeth criança, já envolvida com toda a pompa real. Bem, preciso colocar o macarrão na água. Até a próxima.

Elenco: Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Bonham Carter, Jennifer Ehle, Guy Pearce.
Direção: Tom Hooper

PS Colin Firth, que interpreta o rei George ganhou o Globo de Ouro

PS 2 Indicados ao Oscar:

Melhor Filme
127 Horas
A Origem
A Rede Social
Minhas Mães e Meu Pai
Cisne Negro
Inverno da Alma
O Discurso do Rei
O Vencedor
Toy Story 3
Bravura Indômita

Melhor Atriz
Nicole Kidman, por Reencontrando a Felicidade - Rabbit Hole
Natalie Portman, por Cisne Negro
Michelle Williams, por Blue Valentine
Jennifer Lawrence, por Inverno da Alma
Annette Benning, por Minhas Mães e Meu Pai

Melhor Ator
Jesse Eisenberg, por A Rede Social
Colin Firth, por O Discurso do Rei
James Franco, por 127 Horas
Jeff Bridges, por Bravura Indômita
Javier Bardem, por Biutiful

Melhor Atriz Coadjuvante
Amy Adams, por O Vencedor
Melissa Leo, por O Vencedor
Helena Bonham Carter, por O Discurso do Rei
Hailee Steinfeld, por Bravura Indômita
Jacki Weaver, por Animal Kingdom

Ator Coadjuvante
Mark Ruffallo, por Minhas Mães e Meu Pai
Christian Bale, por O Vencedor
Geoffrey Rush, por O Discurso do Rei
Jeremy Renner, por Atração Perigosa
John Hawkes, por Inverno da Alma

Melhor Diretor
Darren Aronofsky, por O Cisne Negro
David Fincher, por A Rede Social
Tom Hooper, por O Discurso do Rei
Joel Coen e Ethan Coen, por Bravura Indômita
David O. Russell O Vencedor

Melhor Documentário
Saia Pela Loja de Souvenirs
Gasland
Inside Job
Restrepo
Lixo Extraordinário

Melhor Documentário em Curta-metragem
Killing the Name
Poster Girl
Strangers No More
Sun Come Up
The Warriors os Qiugang

Melhor Edição
Cisne Negro
O Vencedor
O Discurso do Rei
127 Horas
A Rede Social

Melhor Filme Estrangeiro
Biutiful
Caninos
Em Um Mundo Melhor
Incendies
Outside the Law

Melhor Maquiagem
Barney's Version
The Way Back
O Lobisomem

Melhor Trilha Sonora
Como Treinar seu Dragão
A Origem
O Discurso do Rei
127 Horas
A Rede Social

Melhor Canção Original
Coming Home, de Country Strong
I See the Light, de Enrolados
If I Rise, de 127 Horas
We Belong Together, de Toy Story 3

Melhor Animação
Como Treinar o Seu Dragão
Toy Story 3
L´Illusioniste

Melhor Roteiro Original
Um Ano a Mais
O Vencedor
A origem
Minhas Mães e Meu Pai
O Discurso do Rei

Melhor Roteiro Adaptado
127 Horas
A Rede Social
Toy Story 3
Bravura Indômita
O Inverno da Alma

Melhor Som
A Origem
O Discurso do Rei
Salt
A Rede Social
Bravura Indômita

Melhor Edição de Som
A Origem
Toy Story 3
Tron: O Legado
Bravura Indômita
Incontrolável

Melhores Efeitos Visuais
Alice no País das Maravilhas
Harry Potter e Relíquias da Morte Parte 1
Além da Vida
A Origem
Homem de Ferro 2

Melhor Curta-Metragem de Animação
Day & Night
The Gruffalo
Let's Pollute
The Lost Thing
Madagascar, carnet de voyage

Melhor Curta-Metragem
The Confession
The Crush
God of Love
Na Wewe
Wish 143

Melhor Figurino
Alice no País das Maravilhas
I Am Love
O Discurso do Rei
The Tempest
Bravura Indômita

Melhor Direção de Arte
Alice no País das Maravilhas
Harry Potter e Relíquias da Morte Parte 1
A Origem
O Discurso do Rei
Bravura Indômita

Melhor Fotografia
Cisne Negro
A Origem
O Discurso do Rei
A Rede Social
Bravura Indômita

quarta-feira, janeiro 26

Bravura Indômita


Os irmãos Cohen, que assinam a direção e o roteiro deste filme, estarem novamente disputando o Oscar não é nenhuma novidade. Eles já conseguiram arrebatar a estatueta com o caldo de bila "Onde os Fracos Não Têm Vez", em 2007, e disputaram novamente o prêmio no ano passado com o enfadonho "Homem Sério". São os queridinhos da academia, ao que posso perceber. Mas "Bravura Indômita" é uma produção que tem diferenciais de qualidade.

A meu ver, o principal destaque é a atriz Hailee Steinfeld, que interpreta uma jovem de apenas 14 anos, que toma a frente dos negócios do pai, assassinado por um ladrão de cavalos, e resolve contratar um caçador de recompensas para capturar ou matar o bandido. Ambientado no oeste americano pós guerra da Secessão, em clima de inverno. A atriz se faz verossímil naquele ambiente. Um quase criança no meio de homens por barba por fazer e tendo como o principal meio de comunicação o cano de suas armas, em busca de um assassino, não é uma elemento fácil de se encaixar. Mas o roteiro e a atriz conseguem isso com muita propriedade.

Para quem não gosta de filmes de bang bang talvez fique difícil apreciar essa produção, que já foi também rodada em 1968, tendo como protagonista Jonhy Wayne, que interpreta o papel do caçador de recompensas alcoóltra, agora vidido, de forma irretocável, por Jeff Bridges. Mas não é condição sine qua non ser apreciador do gênero para se envolver com a trama. Principalmente porque o protagonismo do filme mudou de eixo. A história é contada mais sob a perspectiva da contratante.

As cenas são bem cuidadas. Uma que me chamou particularmente a atenção se passa logo no iniício do filme. O caçador de recompensas sai do tribunal e se depara com a jovem que quer a tudo custo contratá-lo.Ele para momentaneamente e começa a enrolar um cigarro de palha. A menina retira o objeto de sua mão e termina o serviço com uma lambida no papel para fechar o cigarro. Antes de entregá-lo ao dono, ainda comenta que o fumo está muito seco, se mostrando conhecedora so produto.

Mas ela apesar de ser muito arrogante, num esforço para se impor naquele mundo absolutamente masculino e machista, dá demonstrações de feminilidade. Ao lhe ser oferecido um café, ela gentilmente recusa, alegando que tem apenas 14 anos e não é afeita ainda a bebida. São essas delicadezas da trama que avivam a qualidade do roteiro e nos metem de cabeça na história que é contada.

Os nódulos dramáticos também conferem ao filme uma dinâmica interessante, sem cair na monotonia que alguns traillers de bang bang nos remetem. A menina não é poupada de nada. Assiste impassível a enforcamentos pela justiça na cidade, enfrenta todo o descaso que uma criança pode passar por conta do seu sexo e pela idade, e ainda vê execuções sumárias diante dos seus olhos. Essa foi a sua formação.

Os irmãos Cohen também não se furtaram de mostrar o tratamento desumano que era imposto aos índios naquelas épocas. Mas isso eu vou contar. Vou deixar para você descobrir. Se você for do tipo totalmente avesso ao gênero farwest, talvez seja perca de tempo, mas se não, vale.

Ficha técnica

segunda-feira, janeiro 24

The Big Bang


Um filme no mínimo diferente. Logo na abertura, The Big Bang mostra criatividade. O diapasão é como um teaser, rodado em super slow motion. Imagens belíssimas surgem, ficando até difícil a atenção voltar-se para os créditos que começam a ser apresentados. De cara, me encantei. É a história de um detetive contratado para descobrir aonde estaria a namorada de um ex-detento condenado a prisão perpétua, mas que inexplicavelmente consegue a liberdade.

A namorada ele nunca viu. Todo o romance aconteceu através de troca de cartas. Ele, um ex-pugilista foi condenado por assassinato de um chefão mafioso. Este chefão tinha contratado o boxeador russo Anton 'The Pro' Protopov" por US$ 30 milhões para perder uma luta. Mas ele, certo que não ia nunca sair da prisão, disse para a namorada aonde está a grana. Esse é o fio condutor da trama. Antonio Banderas é o detetive em busca da solução do enigma.

O filme é tem uma montagem não linear. E logo no início aparece uma cena que é comum às produções Quem Quer Ser Milionário e Os Supeitos. O detetive Ned Cruz (Banderas) está ensanguentado e sendo interrogado por três policiais. A partir daí , através das memórias de Ned, se desenvolve a linha narrativa. O local é aparentemente uma delegacia, mas neste filme, as aparências podem enganar.

Se você é do tipo que não gosta de saber de algumas partes da trama antes de assistir o filme, não deve continuar lendo, a partir daqui. O detetive, pelo que os policiais contam, poderia estar envolvido em uma série de mortes, porque ele teria sido o último contato antes das vítimas virarem cadáveres. Ned, então, sempre sob ameaças, conta uma história que parece ser fantasiosa.

O ex-pugilista que o contratou para encontrar a namorada virtual, é um russo que teria entregado a propina que recebeu para esta mulher que nunca viu pessoalmente. Ele descobre que, na realidade, foi libertado para que outros mafiosos possam localizar a mulher e consequentemente os 30 milhões de dólares. Assim, passa a ser perseguido, até que através de pistas chega a uma pequena cidade no Novo México 0nde um bilionário excêntrico de 60 anos vai testar pela primeira vez o seu acelerador de partículas na tentativa de descobrir a origem do universo. A jovem esposa do cientista, uma ex-stripper é a mesma pessoa que está na fotografia enviada ao pugilista, quando ele se encontrava na cadeia. Só que ela diz não saber nada de nenhuma carta que foi a ele enviada. A série de acontecimentos surpreendentes continuam a partir desse ponto. Acho que está bom de spoilers.

A direção primorosa é de Tony Krantz, o mesmo que dirigiu o desconhecido Otis e Sublime, nenhum dois dois digno de nota. Mas em Big Bang ele realmente acertou a mão, auxiliado pelo bem amarrado roteiro de Erick Jendresen. Krantz também dirigiu a série de TV 24 horas.

Informações Técnicas :

Título no Brasil: The Big Bang
Título Original: The Big Bang
País de Origem: EUA
Gênero: Ação, Mistério, Suspense
Tempo de Duração: 95 minutos
Ano de Lançamento: 2011
Direção: Tony Krantz

Elenco :

Sienna Guillory ... Julie Kestral
Autumn Reeser ... Fay Neman
Antonio Banderas ... Ned Cruz
Sam Elliott ... Simon Kestral
William Fichtner ... Detective Poley
James Van Der Beek ... Johnny Nova
Thomas Kretschmann ... Detective Frizer
Delroy Lindo ... Detective Skeres
Jimmi Simpson ... Niels Geck
Robert Maillet ... Anton 'The Pro' Protopov
Snoop Dogg ... Puss
Rebecca Mader ... Zooey Wigner
Bill Duke ... Drummer
Sean Cook ... garçom
Bradley Hollibaugh ... Prison guard
Edward Nickerson ... Boxer (como eddie nickerson)
Nancy Gasper ... Enfermeira
Dan Young ... Computer Control Room Nerd
Robert Ernie Lee ... Russell
Raymond Biddle ... Strip Club Patron
Keith MacGeagh ... Sikh

Para baixar: http://www.megaupload.com/?d=MCC15XJN

Se precisar de legenda, é só me pedir. a que está no site, não ajuda muito

domingo, janeiro 23

De volta aos bancos =)




Boletim de Acompanhamento - 1ª Chamada

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FILOSOFIA
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sábado, janeiro 22

Em cidade de forró, blues é luxo hermético


Acho que estou me especializando em assistir bons shows com fracasso de público. Há algum tempo foi o de Roberta Campos, e ontem foi o da Blues Label, no Amicis, com direito a participação do guitarrista Artur Menezes. Quase totalmente vazio. Contando com os garçons e os músicos, havia perto 60 pessoas. Um espaço apertado parecer gigante é muito estranho.

Os caras arrebentaram. Foi de James Brown a Toni Tornado, passando por Stevie Wonder e Tim Maia, sem perder o gás, apesar da platéia vazia. Eu mesmo quase que não vou, por conta da chuva que banhou a cidade. Ainda bem que me mative fiel ao convite do meu amigo Robério Lessa, que apresenta o programa Abluesando, na FM Assembleia. Aqui meio que chover é desculpa para não sair de casa, o que não deixa de ser ridículo.

Ontem também tive oportunidade de acompanhar o festival do Banco do Nordeste Rock Cordel. Fui platéia da banda Shade Purple, cover do Deep Purple. Os meninos arrebentam. Me senti meio alien, no meio daquela garotada de preto, mas esses ritmos continuam sendo a minha praia. Também não tinha muita gente. E o mais estranho de tudo é a galera se comportando sentada em cadeiras ouvindo hits como Smoke on the Water, Hush, Burn e Highway Star. Coisas da modernidade domesticar roqueiros. O festival segue até a próxima semana. Se tiver agenda, acho que passo por lá de novo.

Por falar em blues, estou ouvindo a gravação da carioca Taryn Szpilman, durante o festival Canoa Blues do ano passado. Ela canta mega bem. Mas é muito chata falando.

quinta-feira, janeiro 20

As mães de Chico Xavier




No sábado passado assisti a cópia ainda não finalizada do filme As Mães de Chico Xavier, a convite do produtor, Luís Eduardo Girão. Como o filme só será lançado em abril, ele nos pediu para não sair com nenhum spoiler, e eu, claro, não vou quebrar a confiança, sorry. O que posso falar sobre o filme é que vale a pena. De todos as produções que remetem de alguma forma ao médium espírita, talvez seja esse a mais comovente, com um roteiro bem amarrado e sem enveredar por questões meramente doutrinárias, que muita vezes aborrecem o público que não professa a religião espírita e empobrece a história.

Básicamente, o filme retrata a vida de mães e parentes de pessoas que desencarnaram (para usar o termo espírita), e procuram o mineiro Chico Xavier em busca de algum conforto espiritual. A história dessas mães é acompanhada por um repórter materialista, que se descobre em meio a farto material jornalístico, diante do que encontra em Minas Gerais. Mas o filme vai muito além disso, discute o sentido da vida, as repercussões de nossas atitudes, e os nossos valores diante das transformações do mundo.

O filme foi quase todo rodado no Ceará, com uma produção de primeira linha. Mesmo sem se reportar em qual época a historia se passa, a utilização de veículos antigos dar um veracidade às cenas. Para os amantes de carros veteranos, o mercedes conversível mostrado no início da produção é de encher os olhos.

Considero um ponto alto a intepretação da atriz Tainá Müller, que faz uma jovem com uma gravidez indesejada, vivendo o dilema entre se entregar à maternidade ou abortar o futuro filho. Também o repórter vivido por Caio Noblat passa credibilidade. Enfim, todo o elenco está muito bem, o que não é muito fácil, quando se trata de caracterizar pessoas reais, muitas delas ainda estão vivas.

Recomendo, independente de suas crenças espirituais ou religiosas. Mesmo se quiser tratar a obra como ficção, ela é capaz de lhe prender a atenção e tocar o seu sentimento.

quinta-feira, janeiro 13

Lutando Contra o Tempo


Não há muito o que se dizer desse filme. Muito fraco e com um roteiro absolutamente sem pé nem cabeça. Conta a vida de um sujeito que viaja no tempo para se vingar de pessoas que lhe desgostaram durante a sua infância. Cuba gooding Jr. É um repórter investigativo que vai apurar os estranhos assassinatos e previsivelmente acaba sendo confundido com o assassino, pela polícia. Para quem é repórter investigativo, ele é demasiadamente ingênuo, que faz todo o enredo ser muito inverossímil, ingênuo e destituido de qualquer atrativo. O final do filme é um anti-climax total.

Melhor não perder o tempo que eu perdi.

domingo, janeiro 9

Da série é por isso que não leio jornal III

Nas páginas de política de O Povo de hoje foi publicada mais uma pérola. Uma canhestra tentativa de manual de xadrez. Pra que isso? Será que alguém consegue jogar só seguindo essa aberração?


"Rei: move-se para todas as direções, mas só uma casa.


Dama: é a peça mais poderosa. Defende o rei.


Bispo: move-se pela diagonal, sendo que nunca poderá mudar a cor das casas em que se encontra. Seu valor é considerado superior ao do cavalo.


Cavalo: é a única peça que pode pular sobre as outras, tanto as suas quanto as adversárias.


Torre: movimenta-se em direção reta pelas colunas ou fileiras. A torre tem mais valor que bispo e cavalo.


Peão: movimenta-se apenas uma casa para frente e captura outros peões e peças em diagonal".

sábado, janeiro 8

As viagens de Gulliver


Quando li o livro As Viagens de Gulliver, escrito por Jonathan Swift, no século XVIII, era ainda criança. Até que achei divertido. E ainda criança assisti uma das versões cinematográficas da história. Já não gostei tanto assim. Mas a produção atual, lançada em 2010 e que estreia no Brasil na próxima sexta-feira consegue ser muito pior. A menos que você seja fã incondicional do ator canastrão Jeff Black, quer quer transformar tudo o tempo todo em rock, vai conseguir ver alguma graça. Até um clássico escrito a quase 300 anos é pontuado por riffs de guitarra, entoados, claro, por Black que faz o personagem protagonista.

A história do filme se inicia em uma editora, onde o Gulliver (Black) é o entregador de correspondência que se apaixona pela bela chefe de redação. Bem ao estilo dos filmes de Renato Aragão. Em tese, o feio e gordo personagem principal não teria nenhuma chance com a mocinha. Acontece para impressioná-la ele se diz autor de artigos sobre viagens que realizou ao longo da vida. Ela pede para ver seus escritos. Espertamente, o caricato Gulliver se utiliza do crtl+c , crtl+V e monta uns textos extraídos na Internet que impressionam a editora pela qualidade. Ato contínuo, sem desconfiar de nada, mando-o para Bermudas para produzir alguma nova coisa que possa ser utilizado em manuais de turismo.

A velho e sacado triângulo das Bermudas, local mistificado como de acontecimentos estranhos, bizarros e inexplicados coloca Gulliver e seu barco alugado na rota para Liliput, terra de um povo minúsculo, como todos estamos carecas de saber. O gigante é preso, se liberta e apaga um incendio com uma michada, tornando-se heroi reverenciado por toda a população, menos um general, que quer desposar a mão de uma princesa, transformada em amiga de Gulliver. O personagem título aproveita-se do atraso e desconhecimento cultural daquela gente e passa a ser "autor" de vários clássicos como Guerra nas Estrelas, Titanic e até uma versão reduzida com grupo Kiss, interpretados em palco de teatro.

Sem graça, mal ajambrado e enfadonho, o filme não se furta ainda de exibir todos os trejeitos faciais de Black já por demais explorados em outras produções igualmente fracas do ator. Não sei porque eu assisti este filme, porque eu já sabia que não prestava. Melhor procurar outra coisa pra fazer.


Dirigido por Rob Letterman (do também fraco “Monstros vs. Alienígenas”), “As Viagens de Gulliver” ainda tem uma versão em 3D. É demais para minha paciência.

sexta-feira, janeiro 7

Um pouco do mundo real

Achei interessante essa análise publicada pelo site Terra. Acho que já devo ter escrito coisa semelhante aqui, em algum post. São pensamentos parecidos, muito parecidos com os meus, e que merecem ser lidos, digeridos, e percebidos.

Por uma sociologia da Era Lula

Fernando Borges/Especial/Terra
Lula recebe as chaves da cidade de São Bernardo do Campo
Lula recebe as chaves da cidade de São Bernardo do Campo

Edmilson Lopes Júnior
De Natal (RN)

No final da década de 1950, Wright Mills, um dos mais brilhantes cientistas sociais norte-americanos da segunda metade do século XX, chamava à atenção, em uma obra intitulada A imaginação sociológica, para o fato de que as pessoas tendem a reclamar dos seus problemas cotidianos buscando causas explicativas no seu entorno imediato. Para ele, a maioria das não consegue estabelecer relações causais entre os sofrimentos vivenciados individualmente e as estruturas sociais mais amplas, expressas em tendências econômicas, dinâmicas demográficas e relações de classes, dentre outras. Ao contrário do que pensava o grande sociólogo não são apenas as "pessoas comuns" que agem assim. Ultimamente tem sido essa também essa a reação de muitos dos que se pretendem analistas do mundo social no Brasil. Em especial quando o objeto de análise diz respeito, direta ou indiretamente, ao governo do agora ex-presidente Lula.

Na última semana, marcada pela despedida de um presidente com inéditos 87% de avaliação positiva por parte da população, assistimos ou lemos os nossos "bem pensantes", especialmente aqueles auto-identificados como "cientistas políticos", produzindo lugares-comuns e vendendo-os como análises científicas. Nestas, via de regra, a popularidade do ex-presidente resultaria de sua "capacidade de comunicação", dos ventos favoráveis da economia internacional e do Programa Bolsa-Família. Platitudes e lugares-comuns substituem, assim, a necessidade de perscrutar com mais rigor a realidade.

Poucos analistas se preocuparam em produzir alguma explicação para o espantoso fato de que a popularidade do ex-presidente tenha ocorrido concomitante a uma das mais agressivas reações dos principais órgãos da imprensa nativa a um Presidente da República. Para usar surrado bordão, nunca antes na história deste país um mandatário foi tão hostilizado, quando não ridicularizado, como o Lula durante os últimos oito anos.

Como o bolsa-família, o Prouni e as políticas de micro-créditos, dentre outros instrumentos de transferência de renda, não atingem, nem de longe, aquele contingente populacional que, a cada nova pesquisa, identificava o Governo Lula como "ótimo" e "bom", restou aos "bem-pensantes" apelar para o velho preconceito de classe: os "de baixo" não teriam muito apreço pela ética. Ou pelas instituições democráticas.

Houve quem chamasse a atenção para o "carisma" do ex-presidente. Mas este foi definido como uma característica pessoal. Mesmo gente que citava Max Weber, autor de célebre elaboração sobre a "dominação carismática", esquecia que, para o pensador alemão do início do século, carisma, na vida política, é um fenômeno relacional, não uma particularidade desse ou daquele indivíduo. Analisar os motivos e reações dos "seguidores" do líder supostamente "carismático" é sempre o exercício mais importante. Exatamente o que era apenas superficialmente tocado.

Os "bem-pensantes" esqueceram as pessoas. E estas, ao contrário do supõem os que se alimentam dos próprios preconceitos que secretam, são reflexivas. Fazem comparações e escolhas. Entre um lado que fazia discursos "em defesa da ética", mas ainda ontem praticara uma selvagem "privataria", e o lado que apresentava políticas sociais que tiraram 15 milhões da pobreza, incluíram milhares de jovens no ensino superior e provocaram um positivo curto-circuito em economias locais de recantos esquecidos desde sempre, as pessoas escolheram o segundo.

Novos atores entraram em cena. Tornaram-se visíveis. Mais do que isso, cidadãos. E, em conseqüência, também consumidores. Abarrotaram as ruas de comércio popular, mas também os shoppings e os aeroportos. Não poucos ficaram incomodados com essas novas companhias nos seus espaços. Afinal, "praias" durante tanto tempo exclusivas foram "invadidas".

O incômodo de alguns setores tradicionais ante a emergência desses novos cidadãos alimentou a narrativa preconceituosa dominante na imprensa. Os bem-pensantes contribuíam com suas "análises" a respeito do "populismo". Os menos sofisticados falavam em "bolsa-esmola"...

Passado o vendaval das fortes emoções provocadas pela presença de Lula no centro do palco, é tempo de se produzir uma rigorosa e crítica sociologia da "Era Lula". Quem desejar assumir essa tarefa deve se lembrar de um alerta, formulada há décadas por outro grande cientista social, este brasileiro, que apontava a necessidade de superarmos análises que apenas "arranham a superfície" dos fenômenos. Refiro-me a Florestan Fernandes, alguém que desdenhava, com ironia corrosiva, o mundo pintado pelos bem-pensantes.

Edmilson Lopes Júnior é professor de sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

quarta-feira, janeiro 5

Scott Pilgrim Contra o Mundo


Scott Pilgrim Contra o Mundo é bem interessante. baseado na história em quadrinhos de mesmo nome, não é um filme para quem está procurando mais do que uma boa diversão. Tem um roteiro dinâmico, criativo e a direção usa uma linguagem transposta dos videogames e dos comics. Alguma coisa como uma evolução de última geração do seriado Batman que era exibido há milhares de anos na TV. Pode-se ver e ouvir onomatopeias cercadas de realces gráficos. Também utiliza de hipertexto para dar mais dinâmica, clareza e humor às cenas. Se não é cabeça também, definitivamente, não é uma película comum.


A produção conta a história, que se passa em Toronto, Canadá, de Scott um garoto cronologicamente recém saído da adolescência, com seus vinte e poucos anos, mas que na prática continua com todos os seus arroubos juvenis. Ele não sabe nem o que quer fazer da vida. Diz que está entre um emprego e outro, naquele momento, mas também integra uma banda de rock que tem dúvidas quanto à possibilidade de sucesso musical do grupo. Enquanto isso arruma uma namorada chinesa ainda no colegial, fato esse que é condenado por todos os seus amigos e até por sua irmã, que diariamente recebe informações de um amigo gay de Scott, sobre a vida de seu irmão.

A bela chinesinha e Scott até que se dão bem. Gostam de jogos de videogame e ela, de cara, se encanta com o grupo musical de Scott. Os amigos, todos, acham aquilo ridículo, face a "monstruosa" diferença de idade entre os dois. E não fazem nenhum esforço para ambientá-la, apesar de todos dias ela ser platéia dos ensaios da banda. A tensão sobre o protagonista cresce quando ele resolve se encantar por Ramona Flowers, uma menina tipo descolada e de uma natureza diferente das demais por ser novaiorquina. Toronto é um centro muito pacato onde as coisas não acontecem, pelo que mostra o roteiro.

A menina não oferece resistência ao assédio de Scott e aí começam a surgir os problemas dele. Ele terá de enfrentar os sete ex-namorados maus de Ramona em desafios semelhantes aos de videogames. Os movimentos das lutas em que se envolve repetem às coreografias vistas em telas de games como mortal kombat, Street Fighters e Tekken. E ao final de cada enfrentamento, quado o oponente é derrrotado o vencedor recebe um prêmio em moedas, que despencam do ar. Tudo isso gerando uma dose de humor, e não deixando que o filme descambe para a violência gratuita. Não, esse não é filme para fãs de Stollone, Steve Seagal ou Chuky Norris.

Os combates são uma espécie de tirada de onda com a crença juvenil de que todos os ex-namorados até das garotas mais descoladas são idiotas. Somente o atual tem um diferencial de qualidade que permite a entrega. Como se para se chegar à maturidade a menina precisa antes conhecer uma série de canalhas. Scott Contra O Mundo inova na linguagem, apesar de algumas ideias já terem sido usadas em outros filmes como Zumbilândia. É divertido, leve e tem um final bem interessante. Mas deve ser entendido com descontração e leveza. Para deleite da geração gamers. E o título faz bem juz ao que grande parte dos adolescente sentem nessa idade. Todos são contra eles.

Há quem diga que esse filme deve ser indicado ao Oscar. Como bem falou Pablo Vilaça. Eu não creio que chegue a tanto. Mas, afinal, o que é mesmo o Oscar?

Direção: Edgar Wright Elenco: Anna Kendrick (Stacey Pilgrim), Mary Elizabeth Winstead, Kieran Culkin (Wallace Wells), Jason Schwartzman, Chris Evans (Lucas Lee), Michael Cera (Scott Pilgrim), Bill Hader

segunda-feira, janeiro 3

O olhar Invisível


Não sei o porquê de a maioria dos brasileiros gostar tanto de se rivalizar com os argentinos. Definitivamente, acho que devíamos procurar rivais mais à nossa altura. Não gosto do futebol argentino, considero os jogadores de lá um bando de catimbeiros sem esportividade, violentos e dissimulados. Mas em algumas áreas, reconheço, podemos nos deleitar com que os platinos têm produzido, como a música e o cinema.

No ano passado, o belo O Segredo dos Seus Olhos. dirigido por Juan Jose Campanella, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro merecidamente. Ele também dirigiu o elogiado O Filho da Noiva. É do diretor argentino Gaspar Noé o intrigante Irreversível e o também hermano Marcelo Piñeyro fez a direção do já considerado clássico Plata Quemada. Todos capazes de encher os olhos do cinéfilo mais exigente.

E ontem tiver a oportunidade de assistir o O Olhar Invisível dirigido por Diego Lerman, "arrentino" de 34 anos. Este filme foi exibido durante Fest Rio 2010, em outubro. Tendo como cenário de fundo os últimos anos da ditadura militar argentina, conta a história de uma preceptora, Maria Teresa (Julieta Zylberberg), funcionária de um tradicional colégio de Buenos Aires, que tem como principal função manter os alunos na linha. E linha, nos inícios nos anos 80, era a repetição do quadro de terror por qual passava toda a sociedade platina por aquelas épocas.

Os alunos são submetidos a uma disciplina semelhante a de militares. Meninos e meninas passam por revistas, como uma tropa. Os preceptores verificam toda a postura dos jovens, das meias aos colarinhos, passando pelo comprimento dos cabelos. Qualquer desalinho era notificado em caderneta.

Tendo como atribuição profissional cuidar da disciplina dos estudantes, onde até um beijo entre um aluno e uma aluna era alvo de repreensões, Maria Teresa, bonita e esguia, se amolda a uma personalidade anódina, mostrando sempre uma face rigorosa, beirando a cruel, para os alunos. Mas com muita sutileza da direção, outro personagem e apresentado ao público. Uma Maria reprimida, que teme a sua própria sexualidade. Sabe que a exposição de seus desejos poderá levá-la a uma perda de autoridade perante os alunos. Muito delicadamente, também é apresentada uma atração que Maria tem por um dos jovens. Ela sofre silenciosamente com isso, ao ponto de ocultar a compra de um perfume masculino apenas para, antes de dormir ter o cheiro do aluno para se deleitar.

Mas desejos latentes, quando não saciados, podem conduzir a comportamentos doentios. Por isso, ela leva ao chefe dos preceptores Carlos Biasutto (Omar Núñez) , um sujeito além da meia idade que nutre uma paixão por Maria Teresa, uma suspeita de que alunos estariam fumando escondidos. Recebe dele o aval para manter um olhar invísivel, que dá o título ao filme. Ela então sente-se abonada em conceder cores à sua fantasia de espionar os meninos no banheiro da escola. Diariamente, esconde-se em uma das cabines sanitárias de onde lança olhares furtivos. No local, mesmo se sentindo culpada por sua atitude, dá vazão aos seus instintos. Esse passa a ser o sentido da sua vida, como sugere o roteiro do filme, que dedica longos minutos ao que se passa no banheiro masculino da escola.

Toda a aridez e assepsia do local é sugerido pela câmera e pelas cores predominantemente cinzas e seus subtons. Cores vivas são evitadas, sugerindo a presença da ditatura no cotidiano daquelas pessoas. Neste ambiente, o chefe dos preceptores tenta seduzir Maria Tereza, mas não consegue trocar além de algumas cordialidades. Até um simples toque, durante uma conversa em um café, é evitado vigorosamente por Maria. A tentativa de aproximação passa por ele tentando convencê-la de tratá-lo pelo primeiro nome Carlos. Mas a jovem preceptora insiste inarredavelmente em um tratamento formal para desgosto do pretendente. Afinal, o que uma jovem na flor dos seus 23 anos iria querer com alguém provavelmente sexagenário?

O clima pesado do filme pode levar o público desavisado a uma certa angústia, já que quase nada é mostrado explicitamente. E ao contrário do que agora tem virado moda, não há nenhum recurso de voz narrativa em off para clarear o que está se passando no interior de Maria. A leveza da direção talvez seja o seu maior mérito.

Mas o final não é nada suave. O preceptor chefe descobre que Maria anda se esgueirando no banheiro masculino e passa a ter isso como um trunfo. Em um momento brutal ele a flagra dentro de um box, condena-a com toda a dureza possível, e aproveita a superioridade de posição e de condição para estrupa-la brutalmente. Ao final do ato, ainda diz para ela continuar diariamente com as suas zelosas investigações no banheiro masculino. Ferida em seus brios, em todos os sentidos, Maria o acerta com um estilete, pelas costas. O filme encerra com os apelos de socorro do algoz que se transforma em vítima. Até a morte do antagonista é sugerida, e não explícita. Como um tango trágico.

domingo, janeiro 2

Da série É por Isso Que Não Leio Jornal

No Jornal O Povo de hoje foi publicada essa pérola sem pé e sem cabeça.

Como evitar neve no Sri Lanka

Tal como aconteceu no roteiro do primeiro longa-metragem norte-americano da série Aeroporto (Airport), de George Seaton, em 1970, nevascas, uma ocorrência comum nas passagens de ano do Hemisfério Norte, mas extrapolando esta temporada na intensidade, possivelmente devido as consequências do aquecimento global, tumultuam o tráfego de aviões nos terminais aeroviários entre o Polo Norte e o Trópico de Câncer.

Um dia desses, causou estupefação a este autor assistir a um telejornal com imagens do gelo nas pistas de aeródromos da Europa. Taxiava na ocasião aeronave da SriLankan Airlines companhia de aviação civil do Sri Lanka, país denominado de Ceilão até 1972. O espanto decorreu de que, de 1983 a 2009, a ilha foi abalada por guerra civil na qual a minoria populacional tâmil tentou implantar uma nação em separado da maioria demográfica cingalesa, no Norte e no Nordeste do território. Um dos alvos dos guerrilheiros tâmeis eram os aeroplanos da SriLankan, sendo pelo menos um dinamitado ao meio no aeroporto da ex-capital Colombo. Atualmente, a sede de governo é Kotte, oito quilômetros a sudeste. Hoje, a SriLankan interliga o antigo Ceilão a 49 destinos em 31 países diferentes.


Antes da supracitada guerra civil, o Sri Lanka era talvez o país pobre mais bonito de se visitar. É só conferir nos cartões-postais. Numa época em que o inverno da Europa e da América do Norte complica chegadas e partidas nos aeroportos, bem que os viajantes com dinheiro, incluindo brasileiros, pudessem agendar o que os portugueses chamavam de Taprobana, citado na primeira estrofe de Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões. A influência lusitana foi tanta que, até hoje, há palavras decorrentes da presença portuguesa, incluindo de Colombo ao sobrenome Fonseka.


Foi o então Ceilão escolhido moradia para sempre do autor de 2001: uma odisseia no espaço (2001: a space odissey), o inglês Arthur C. Clarke (1916-2008). A ilha é berço também de um dos cineastas de maior importância do mundo, Lester James Peries, ativo a partir de 1956. Infelizmente, apenas um dos filmes dele teve apresentação no Brasil, A mansão do lago (Wekanda walawa), de 2002, adaptação da peça russa O jardim das cerejeiras, de Tchecov, exibido em uma das mostras internacionais de cinema em São Paulo.


Talvez a maior curiosidade sacro-turística do Sri Lanka seja o pico de Adão. Lenda local garante que após a expulsão do Paraíso, Adão escolheu a ilha para morar. No alto do monte, num mosteiro budista, existe uma pegada de dois metros de comprimento que os monges e os fiéis atribuem ser do próprio Sidarta Gautama. Cristãos a identificam como rastro de São Tomé. Além de muçulmanos preferirem ser marca de pé do próprio Adão.

Frederico Fontenele Farias